sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Entreminerar e prosperar

Enquanto não se defineum marco regulatório para a mineração no Brasil, com suas restrições,obrigações e compensações, a extração do minério de ferro em Minas vai, a cadadia, levando junto com ela um pouco de nossas riquezas minerais, nossas belezasnaturais e nossa história. Tudo isso, sem uma contrapartida à altura, sendocobrados preços irrisórios para toda destruição e todo mal inerentes aoextrativismo mineral.
Para se ter uma idéiamínina do tanto que todo esse processo nos consumiu durante anos e anos deextração e depredação, coloco, lado a lado, duas cidades mineiras que fizeramsuas escolhas, entre a mineração e a preservação. Ouro Preto e Congonhas sãotestemunhas e exemplos claros de todo esse processo. Filhas da mesma história enascida no mesmo contexto, uma escolheu ser cidade turística e a outra, umacidade mineradora. Uma, tornou-se inteira Patrimônio Cultural da Humanidade. Aoutra, apenas um pedaço menor, se aproximando mais de uma cidade do interior deMinas - com todos os problemas sociais, culturais e naturais que uma cidademineira pode ter - que de uma cidade turística. Uma, preservou-se como umacidade limpa, bonita, polida, orgulho de seu povo. Outra, uma cidade encardida,com uma cor triste em sua fachada, sendo objeto diário da luta por uma melhorqualidade de vida para sua população.
Ouro Preto, preservandoe respeitando sua história, hoje é visitada, fotografada e filmada pelo mundo inteiro,recebendo turistas que afluem da Europa, da Ásia, da Oceania, simplesmente paraver suas casas e passear por suas ladeiras, sem levar nada além de fotos,vídeos e lembranças, tendo a beleza os guiando e seguindo por toda parte.
Congonhas, com suagente ordeira e trabalhadora, agora assiste ao agravamento da violência urbana,recendo trabalhadores e imigrantes de todo o Brasil, que vão explorar seuminério de ferro e extrair suas riquezas naturais, impondo uma nova realidadesocial e cultural à outrora pacata cidade mineira.
Imagino que Congonhas,em um determinado período, tenha sido uma das mais belas cidades do mundo, comseus casarões margeando a subida até o encontro mágico com o panteão da belezana divindade entalhada em seus profetas, tendo a barroca cidade lá embaixo, comseus lampiões, seu casario e suas ruas estreitas. Todo esse cenário esculpidopelo tempo e pela história foi ignorado, trocando o hábito da preservação peloequivoco da extração sem critérios, nos deixando menores e mais vazios também.Substituíram o barroco pelo barraco.
Ouro Preto, não, soubeminerar e preservar, produzir e manter, sendo suas pedras preciosas extraídas,lapidas, exportadas e admiradas mundo afora. Todas elas, beneficiadas aqui. Dapedra sabão, temos uma grande cadeia produtiva, que se inicia com o artesãoprodutor na zona rural e o comerciante na área urbana. Tudo isso integrando umavasta cadeia produtiva, inerente a chamada indústria limpa, que é o turismo nomundo hoje. Por outro lado, o minério de Congonhas vai deixando buracos nas montanhas,nas estradas, nas ruas, e na dura vida do povo de Congonhas, que ficou apenascom a poeira da história.
Seus profetas, registrosvivos de um tempo de beleza e tranquilidade, assistem a tudo calados, vendo a feiapoeira que cobre a cidade. Talvez por isso, miram o céu em busca de alguma resposta,alguma esperança, como que rogando ao pai por uma volta ao passado, talvez, poruma segunda chance.
Petrônio SouzaGonçalves é jornalista e escritor

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