quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O retorno da motosserra

Fechado o período de monitoramento 2010/2011, os alertas indicam que o Brasil pegou a contramão: o desmatamento esse ano voltou a subir.


Nesta quarta-feira, o Inpe divulgou que o desmatamento da Amazônia no mês de julho, medido pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) foi de 224,94 quilômetros quadrados. Esse número eleva para 2.654 km2 o total do desmatamento apurado pelo Deter nos últimos 12 meses. Isso representa um aumento de 15% em relação aos 12 meses anteriores.
Embora o Deter seja um sistema de alerta e não de medição precisa do desmatamento (o INPE usa outro sistema para isso, o Prodes), já é possível afirmar sem sombra de dúvida que a taxa anual de desmatamento da Amazônia voltou a crescer, depois de alguns anos de celebrada queda.
Essa taxa é apurada pelo Prodes, com base no estudo de imagens de satélite muito mais precisas do que as utilizadas pelo Deter (e por isso, de análise mais demorada), e obtidas entre agosto de um ano e julho do ano seguinte. Ela é, em geral, divulgada no final do ano como estimativa e, completada a análise, confirmada no ano seguinte como número oficial.
Para o Greenpeace, que também monitora o desmatamento na Amazônia usando imagens de satélite, sobrevoos e investigações em campo, não há mais dúvida: a taxa oficial do desmatamento anual deverá ultrapassar bastante os 6.451 km2 do ano passado. “Comparando as variações anuais entre Deter e Prodes nos últimos anos com os dados do SAD, sistema da ONG Imazon, dá para estimar que a taxa anual será por volta de 7.500 quilômetros”, diz Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia do Greenpeace.


Quem está no campo, não tem dúvida: o motor para a devastação inesperada esse ano veio do Congresso. “Com o projeto que derruba o Código Florestal aprovado na Câmara, os ruralistas passaram o recado de que desmatar vale a pena, que o crime será recompensado e que a destruição será incentivada”, diz Paulo Adario. “O resultado disso, como a gente pode ver, foi imediato no campo. Isso é um desastre para a Amazônia, para a imagem do governo brasileiro e da presidente Dilma, que se comprometeu a reduzir o desmatamento da Amazônia.”
O texto dos ruralistas está no Senado para ser votado, o que deve acontecer nos próximos meses. Para evitar que o desastre se agrave, o governo terá de fazer o que não fez na Câmara: impedir que os ruralistas consigam aprovar um código florestal que provoca desmatamento. Para isso, será preciso separar o que são demandas justas da agricultura familiar – e atendê-las – ganhando tempo para uma análise profunda, à luz da ciência, do projeto ruralista aprovado pela Câmara.
A virada nos números acontece às vésperas da Rio+20, o mais importante evento climático da ONU que será sediado aqui mesmo, em terras brasileiras. Após se comprometer mundialmente com a redução de nossas emissões de gases estufa, a presidente Dilma terá que explicar como, em seu primeiro ano de gestão, o fantasma do desmatamento voltou. E com ele, toneladas a mais desses gases na atmosfera.



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