Um novo indicador que vai além dos parâmetros econômicos e de
desenvolvimento tradicionais do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) para incluir uma ampla gama de ativos
como o capital manufaturado, humano e natural, mostra aos governos a
verdadeira situação da riqueza das suas nações e a sustentabilidade de
seu crescimento. Assim é o Índice de Riqueza Inclusiva (IRI), lançado no
domingo, 17 de junho, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (Pnuma), durante a Rio+20.
O Brasil é o país com o
quinto maior crescimento sustentável anual per capita do mundo, segundo o
IRI, atrás apenas de China, Alemanha, França e Chile, e à frente de
potências econômicas como Estados Unidos, Canadá e Noruega.
A
principal meta do novo indicador é incentivar a sustentabilidade dos
governos e complementar o cálculo do PIB (que só tem viés econômico) ou
mesmo substituir os atuais medidores da economia. O índice aplica
informações referentes ao capital humano, natural e manufaturado de 20
países, que juntos representam quase três quartos do PIB mundial e 56%
da população do planeta, de 1990 a 2008.
Desenvolvido por
especialistas da Universidade das Nações Unidas, a ferramenta reúne
informações referentes à educação e expectativa de vida, os recursos
florestais, além da produção industrial. Na prática, um país com IRI
alto representa que ele é mais sustentável.
Perda de capital naturalO
Brasil teve o IRI de 0,9 no período, o quinto no ranking da ONU, se
igualando a Japão e Reino Unido. Nos 19 anos medidos, o PIB brasileiro
cresceu 34%, o capital humano aumentou 48% e o capital manufaturado, 8%.
Já o capital natural seguiu na contramão, caindo 25%. A justificativa
do relatório é que a queda foi causada pelo avanço no desmatamento das
florestas e ao aumento das atividades agropecuárias.
No período
analisado, por exemplo, a Amazônia perdeu 331.290 km² de cobertura
vegetal devido ao desmatamento ilegal – uma área equivalente a mais de
sete vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro.
Apesar de
registrar crescimento do PIB, China, Estados Unidos, África do Sul e
Brasil aparecem com tendo esgotado significativamente seu capital base
natural, a soma de um conjunto de recursos renováveis e não renováveis,
como combustíveis fósseis, florestas e pesca.
Durante o período
avaliado, os recursos naturais per capita diminuíram em 33% na África do
Sul, 25% no Brasil, 20% nos Estados Unidos e 17% na China. Das 20
nações pesquisadas, somente o Japão não sofreu diminuição do capital
natural, devido a um aumento da cobertura florestal.
Se medido
pelo PIB, que é o indicador mais comum para a produção econômica, as
economias da China, Estados Unidos, Brasil e África do Sul cresceram
respectivamente 422%, 37%, 31% e 24% entre 1990 e 2008. No entanto,
quando seu desempenho é avaliado pelo IRI, as economias chinesas e
brasileiras aumentaram apenas 45% e 18%. Os Estados Unidos cresceram
apenas 13%, enquanto a África do Sul teve um decréscimo real de 1%.
O
IRI faz parte de uma gama de substitutos potenciais que líderes
mundiais podem levar em conta como forma de dar mais precisão à
avaliação da geração de riqueza para concretizar o desenvolvimento
sustentável e erradicar a pobreza”, destacou Achim Steiner, diretor
executivo do Pnuma. Ele vê a Rio+20 como uma oportunidade para abandonar
o Produto Interno Bruto como medida de prosperidade no século 21 e como
barômetro de uma transição para uma Economia Verde inclusiva. "O PIB
não serve para medir o bem-estar humano, ou seja, as muitas questões
sociais e a situação dos recursos naturais de uma nação”, justificou.
As principais conclusões do IRI são:
- Enquanto 19 dos 20 países sofreram declínio no capital natural, seis
também observaram declínio na sua riqueza inclusiva, colocando-os em uma
faixa insustentável: Rússia, Venezuela, Arábia Saudita, Colômbia,
África do Sul e Nigéria foram os países que não conseguiram crescer. Os
outros 70% dos países mostram crescimento do IRI per capita, indicando
sustentabilidade.
- O alto crescimento populacional em
relação ao crescimento do IRI criou condições insustentáveis em cinco
dos seis países mencionados acima. A falta de crescimento da Rússia é
devida em grande parte a uma queda no capital manufaturado.
-
Descobriu-se que 25% dos países que mostraram uma tendência positiva
quando medido pelo PIB per capita e pelo IDH, computaram IRI per capita
negativo. O principal impulsionador da diferença de desempenho foi o
declínio no capital natural
- Com exceção da França,
Alemanha, Japão, Noruega, Reino Unido e Estados Unidos, todos os países
pesquisados têm uma maior participação do capital natural em relação ao
capital manufaturado, o que destaca sua importância.
- O
capital humano tem aumentado em todos os países e é a forma de capital
eleita para compensar a diminuição do capital natural na maioria das
economias.
- Há sinais claros de permuta entre as diferentes formas de capital.
- Inovação tecnológica e/ou ganhos de capital com petróleo (devido ao
aumento dos preços) superam o declínio do capital natural e os danos das
mudanças climáticas, fazendo com que uma série de países - Rússia,
Nigéria, Arábia Saudita e Venezuela - passem de uma trajetória
insustentável para uma sustentável.
- As estimativas de riqueza
inclusiva podem melhorar significativamente com melhores dados sobre as
reservas de capital natural, humano e social e seus valores para o
bem-estar humano.
O relatório, que será produzido a cada dois anos, faz as seguintes recomendações específicas:
- Países que observam retornos decrescentes no capital natural devem
investir em capital natural renovável para melhorar o seu IRI e o
bem-estar dos seus cidadãos. Exemplos de investimentos incluem
reflorestamento e biodiversidade agrícola.
- As nações
devem incorporar o IRI nos ministérios de planejamento e desenvolvimento
para incentivar a criação de políticas sustentáveis.
- Os
países devem acelerar o processo de transição de uma estrutura contábil
baseada em renda para uma estrutura contábil de riqueza.
- As políticas macroeconômicas devem ser avaliadas com base no IRI, em vez do PIB per capita.
- Governos e organizações internacionais devem estabelecer programas de
pesquisa para calcular os principais componentes do capital natural,
particularmente ecossistemas.
A classificação do relatório (que leva em conta a evolução anual do IRI per capita) ficou da seguinte forma:
1º China - 2,1
2º Alemanha - 1,8
3º França - 1,4
4º Chile - 1,2
5º Brasil - 0,9
" Índia - 0,9
" Japão - 0,9
" Reino Unido - 0,9
9º Noruega - 0,7
" Estados unidos - 0,7
11º Canadá - 0,4
" Equador - 0,4
13º Austrália - 0,1
" Quênia - 0,1
15º Colômbia - -0,1
" África do Sul - -0,1
17º Rússia - -0,3
" Venezuela - -0,3
19º Arábia Saudita - -1,1
20º Nigéria - -1,8
A Rio+20 segue até o dia 22 de junho, na capital fluminense.
Publicado originalmente no
EcoD