Apesar de o animal ser responsável pela disseminação de várias
doenças, consciência da população para o controle da ave ainda é um
desafio. Pesquisadora de São Paulo considera os pombos um problema de
saúde pública
Embora possam parecer aves inofensivas, os pombos são um problema de
saúde pública. No Brasil, uma pesquisa indica que essas aves podem
transmitir até 60 doenças para os seres humanos.
Segundo a bióloga e pesquisadora Margarete Teresa Gottardo de
Almeida, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), a
Famerp, os pombos são fontes de infecção e transmissão de várias
doenças, como a criptococose, salmonelose, histoplasmose e até a
meningite. O contágio se dá principalmente pela via respiratória, quando
se inalam os fungos encontrados nas fezes das aves. Se o organismo da
pessoa que entra em contato com os excrementos estiver debilitado,
aumentam as chances da propagação de doenças.
A professora coordena uma pesquisa sobre pombos há três anos. No
início, a grande quantidade de pombos em locais como praças públicas, no
mercado municipal e nas portas de igrejas da cidade de São José do Rio
Preto chamou a atenção. Sabendo que as fezes de pombos têm bactérias e
fungos que podem causar doenças, ela começou a coletar fezes dos animais
para saber se as aves estavam contaminadas. Das amostras coletadas em
40 bairros na cidade, somente uma delas não apresentou o fungo causador
de Criptococose (doença que afeta principalmente as vias respiratórias),
área de pesquisa da professora.
Contaminação pelo ar
O vento torna-se um facilitador na propagação e dispersão do fungo, que
já foi encontrado pela professora inclusive em frutas nas árvores. O
trabalho mostrou que animais também estão sendo vítimas de infecções
causadas por este fungo. Foram encontradas espécies de calopsitas e
canarinhos contaminadas.
A pesquisa da Famerp não terminou com a divulgação dos primeiros
resultados. O trabalho segue agora com a intenção de estender o estudo
para as fezes de outras aves, inclusive galinhas, para ver se há alguma
relação com doenças causadas aos seres humanos. Quanto aos pombos, já se
sabe que em áreas silvestres eles deixam de ser um problema.
“Existe aquele estigma de que a ave é ‘bonitinha’, é o símbolo da
paz, então as pessoas acabam alimentando os pombos, deixando-os em
ambiente doméstico.” Ela explica que o certo é os pombos ficarem nas
florestas, em ambiente silvestre, e sugere um controle rigoroso da
propagação da espécie. O primeiro passo é não alimentar a ave. Assim,
ela vai começar a procurar por outros lugares. “Mas a conscientização da
população é complicada”, lamenta.
De acordo com a pesquisadora, há uma lei municipal em São José do Rio
Preto (SP) que impede as pessoas de alimentarem pombos e define uma
multa para quem infringir a norma. Segundo ela, há casos na cidade de
quem alimente os animais à noite, em dias e horários alternativos, para
fugir de um possível flagrante.
Problema mundial – A multiplicação desenfreada de
pombos é um problema mundial, principalmente nos grandes centros
urbanos. A pesquisadora lembra que em países como a Itália, campanhas
buscam controlar a natalidade dessas aves não apenas pelos riscos
apresentados à saúde, mas também pelo mau cheiro em pontos turísticos,
em função do excesso de fezes das aves.
“Como bióloga, falo sempre a favor da vida. Existe uma importância
deste ser vivo no convívio humano. Estando na origem deles, na área
silvestre, eles são benéficos, comem insetos e contribuem para o
controle de pragas. Há benefício quando eles estão no ambiente correto. O
problema é saírem desse ambiente”, destaca Almeida.
A bióloga considera os pombos um problema de saúde pública. “Os
pombos passam a ter importância na cadeia epidemiológica de várias
doenças”. Ela é taxativa em dizer que “onde há muitas aves, há muitas
fezes, onde há muitas fezes, há muitos fungos, que são respirados, assim
os pombos se manifestam como agentes de infecção.” (Fonte: Terra)