sábado, 15 de outubro de 2011

O perigo do uso indiscriminado dos agrotóxicos


O Brasil, infelizmente, é o líder mundial de uso de agrotóxicos. Somente em 2010 foram jogados nas lavouras do país mais de um bilhão de litros de veneno, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola. O uso inadequado e exagerado de agrotóxicos nas plantações é responsável pelos altos índices de intoxicação verificados entre os produtores e trabalhadores rurais, provoca a contaminação dos alimentos consumidos pela população e causa a perda da biodiversidade. Devido as suas conseqüências, o uso indiscriminado de agrotóxicos deixa de ser uma questão relacionada exclusivamente à produção agrícola e se transforma em um problema econômico, ambiental e de saúde pública.
Para que se tenha idéia, uma pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) coletou leite de 62 mulheres, no município de Lucas do Rio Verde, para avaliar a situação dos agrotóxicos. Todas elas apresentaram taxas elevadas de agrotóxico no leite materno. Algumas até com seis tipos de venenos diferentes. Isso significa que esses produtos nos atingem desde a infância.
Nesse quadro, os agrotóxicos já ocupam o quarto lugar no ranking de intoxicações, ficando atrás apenas dos medicamentos, acidentes com animais peçonhentos e produtos de limpeza. Essas fórmulas podem causar distúrbios neurológicos, respiratórios, cardíacos, pulmonares e no sistema endócrino, ou seja, na produção de hormônios. No Brasil o consumo de agrotóxicos cresce de forma correspondente ao avanço do modelo do agronegócio, que concentra a terra e utiliza grande quantidade de venenos para garantir a produção em escala industrial.
Mas é possível mudar este modelo de produção e reduzir o uso de agrotóxicos no país. Diversos estudos de empresas brasileiras garantiram o desenvolvimento de novas tecnologias que proporcionam a correta colocação do produto no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de contaminação de outras áreas.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por exemplo, desenvolveu o bocal eletrostático para pulverizadores, um equipamento que reduz o uso de agrotóxicos em plantações. A Embrapa Meio Ambiente adaptou-o em pulverizadores motorizados e, em testes realizados na cultura de tomate estaqueado, demonstrou que a nova tecnologia aumenta 19 vezes a deposição de agrotóxicos nas plantas e reduz em 13 vezes a contaminação dos aplicadores.
Ou seja, é possível mudar este modelo de consumo que causa danos ao meio ambiente e a sociedade. Esta por sua vez, está cada vez mais consciente quanto às conseqüências do uso de agrotóxicos nas plantações. Uma prova disso é a crescente busca pelos produtos orgânicos.
Dentro deste novo cenário a agricultura orgânica e a agroecologia ganham força. O mercado de orgânicos movimenta cerca de US$ 40 bilhões (R$ 89,2 bilhões) ao ano, no mundo. Ou seja, a busca por uma produção sustentável e alimentação saudável é crescente e não encontra barreiras.
No Paraná participamos da implementação de algumas ações direcionadas a redução dos níveis de contaminação pelo uso e armazenamento de agrotóxicos. Em 2003, o Paraná ocupava a 9ª colocação no ranking nacional de recolhimento de embalagens de agrotóxicos.
Com o lançamento de campanhas – em parceria com o Instituto Nacional de Recolhimento de Embalagens Vazias (Inpev) - explicando a importância da tríplice lavagem para o recolhimento, garantimos o aumento nos índices de devolução. Em 2009, o Paraná já ocupava destaque no cenário mundial entre os que mais recolheram embalagens usadas de agrotóxicos.
Além disso, os estoques de Hexabenzeno de Cloro (BHC) - agrotóxico proibido há mais de 20 anos – estão com os dias contados no Paraná. Em 2009, lançamos uma campanha inédita para recolher e destinar adequadamente este produto que ainda pode ser encontrado em propriedades rurais no interior do Estado. O BHC, ao entrar em contato com a pele, tem efeito cumulativo, causando danos irreversíveis. Já para o meio ambiente, entrando em contato com o solo, o BHC pode contaminar a terra por mais de 100 anos.
O pontapé inicial aconteceu no município de Mandaguaçu, de onde foi retirada a primeira carga de BHC, contendo 14 toneladas do produto armazenado em 20 propriedades rurais.
Vale lembrar, que só estamos conseguindo eliminar este passivo ambiental graças ao apoio dos Sindicatos Rurais, Cooperativas, técnicos, produtores e apoio legal do Projeto de Lei - aprovado pela Assembléia Legislativa do Paraná.
Também como parte da campanha, lançamos o ‘Manual de Orientação para Acondicionamento, Transporte e Destinação do BHC e Agrotóxicos Obsoletos e Proibidos’, elaborado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (CEMA) para orientar a maneira correta de manipular os agrotóxicos.
Com isso, esperamos uniformizar no Paraná os procedimentos de redução na aplicação, retirada e incentivo a agricultura sustentável, garantindo aos produtores rurais a não manipulação desses produtos perigosos, o que irá preservar a saúde do agricultor e evitar danos irreversíveis ao meio ambiente.
Rasca Rodrigues é deputado estadual pelo PV, vice-presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa e ex-secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná

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