terça-feira, 5 de abril de 2011

Aumento do preço do etanol ameaça a saúde da população, diz especialista

Para Paulo Saldiva, o mercado brasileiro não é regido por responsabilidade socioambiental, o que levará o consumidor a optar pelo combustível mais barato

por Hanny Guimarães
 Shutterstock
A União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) estima que os preços do etanol devam subir 35% este ano. Mesmo com a expectativa de aumento na oferta do biocombustível nas próximas semanas, os preços no varejo continuarão em alta, assustando os consumidores, que já pagam até R$ 2,80 pelo etanol em algumas cidades brasileiras.

Para proprietários de veículos flex, o etanol é economicamente mais compensador se o preço desse combustível for igual ou menor do que 70% do preço da gasolina. Para saber isso, basta dividir o valor do álcool pelo da gasolina; se a conta resultar num número inferior a 0,7 (ou 70%), seria mais vantajoso do ponto de vista econômico ficar com o etanol.

A escolha pelo combustível derivado de cana-de-açúcar, que antes se mostrava mais atraente tanto para o bolso quanto para o meio ambiente, agora não empolga o consumidor, que tem demonstrado preferência por abastecer o veículo com gasolina. A questão do preço, no entanto, pode ter como consequências o aumento da poluição do ar nas grandes cidades. Segundo o Sindicato dos Distribuidores de Combustíveis (Sindicom), houve queda de 40% das vendas do combustível renovável pelas distribuidoras, já que parte dos proprietários de carros bicombustíveis tem preferido a gasolina.

Paulo Saldiva, especialista em patologia pulmonar e coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo, acredita que o consumidor não abrirá mão do benefício econômico para aliviar as condições de poluição vividas na cidade. “O mercado não é regido por responsabilidade socioambiental. Os impactos podem não ser medidos agora, mas em breve teremos uma piora na qualidade do ar que respiramos”, afirma.

 Soluções

Segundo Saldiva, a migração para a gasolina é significativa, mas é parte de um problema maior que deve ser resolvido não só com o controle do valor do combustível renovável, mas com uma política de transportes mais eficaz.

Os veículos movidos a gasolina emitem não só gases de efeito estufa, mas substâncias cancerígenas que prejudicam a saúde do ser humano. “Imediatamente, o consumidor observa o prejuízo no bolso, mas o pior será contabilizado depois, com a saúde”, explica.

Para o especialista, é importante que as campanhas de uso de combustíveis renováveis não sejam focadas apenas no preço ou nos benefícios de longo prazo para o meio ambiente. “As pessoas precisam perceber que a escolha por um combustível alternativo afeta diretamente a qualidade de vida delas”, diz. Ele defende, ainda, medidas como a divulgada pela União Europeia, que pretende aprovar uma meta para que em 2050 não se tenha mais carros movidos a combustíveis fósseis. “Mas isso traz uma pressão enorme do mercado”, admite.
Leia Mais

Nenhum comentário:

Postar um comentário