segunda-feira, 25 de abril de 2011

Programas de recuperação de espécies

A caça e pesca predatória levam à extinção de espécies em todas as florestas do planeta, inclusive na Mata Atlântica. A introdução de indivíduos exóticos e, principalmente, a destruição do habitat dos animais, também são causas da extinção, mostrando que a preservação de espécies está diretamente ligada a de seus ambientes.

Mesmo nesse cenário, pesquisadores vêm redescobrindo a presença de animais e plantas considerados extintos na Mata Atlântica. A redescoberta de um sapinho (Paratelmatobius gaigeae), de apenas alguns centímetros e considerado extinto desde a década de 1930, é uma dessas surpresas. Pesquisadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) registraram a presença do animal na Estação Ecológica do Bananal - uma “ilha” com 884 hectares de Mata Atlântica cercada por plantações -, que havia sido retratado em pinturas de 1931 por Adolpho Lutz, em imagens que serviram para a descrição científica da espécie em 1938, seguida do desaparecimento do sapo na natureza.

Uma das iniciativas de maior resultado na recuperação de espécies em ecossistemas associados à Mata Atlântica foi o projeto Tamar de tartarugas marinhas, criado em 1980, por estudantes de Oceanografia da Universidade de Rio Grande e pelo antigo IBDF, atual Instituto Brasileiro de Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Um levantamento feito pelos estudantes na época mostrara que todas as cinco espécies de tartarugas marinhas que usavam o litoral brasileiro para desovar estavam à beira da extinção. O projeto passou, assim, a criar campos de trabalho nos principais pontos de desova das tartarugas, em áreas de Mata Atlântica, para garantir a preservação das espécies. Passados 27 anos, o projeto recuperou definitivamente as tartarugas ameaçadas e, em 2007, serão protegidos e liberados ao mar 8 milhões de filhotes de tartarugas marinhas. Em 1992, a marca era de 1 milhão de filhotes protegidos e lançados ao mar depois de eclodirem os ovos.

Para esse tipo de iniciativa, foi preciso incluir o envolvimento das comunidades litorâneas no trabalho de preservação e educação ambiental. São cerca de 300 pescadores trabalhando para o Tamar em todo o País. Eles são os tartarugueiros, que patrulham as áreas de proteção, fiscalizando os ninhos.

Uso econômico das florestas

O potencial da floresta como produtora de serviços ambientais - pela proteção de nascentes e mananciais, abrigo de diversidade biológica, controle de pragas, entre outros - e como fonte de atividades econômicas está cada vez mais evidente. A Mata Atlântica regula o regime de água de nove das principais bacias hidrográficas brasileiras. Por isso, manejar a floresta de maneira sustentável é garantir o abastecimento de água de 62% da população e o bom funcionamento da economia nacional.

A exploração racional dos recursos da floresta se dá com base no manejo sustentável, onde a capacidade de manejar esses recursos respeita o potencial da natureza em repor seus estoques e manter suas funções ecológicas. Ainda assim, num bioma com somente 7,3% de sua cobertura original, torna-se complexo alcançar a sustentabilidade a partir dos recursos existentes, já insuficientes para atender às necessidades da atual geração.

Por isso, a exploração comercial de madeira nativa na Mata Atlântica é hoje desaconselhada, apesar de haver a possibilidade legal de fazer manejo, pois a prioridade deve ser a conservação da cobertura florestal e de sua capacidade regenerativa para só então se pensar na produção.

Outro uso econômico da mata é a extração, de maneira sustentável, de seus recursos não-madeireiros, como plantas nativas que representam oportunidades de negócio, assim como os remédios que podem ser fabricados a partir de galhos, folhas, raízes, frutos, ou de venenos, como o da jararaca, com o qual são feitos medicamentos como o Captopril - ansiolítico cujo nome foi patenteado por uma multinacional.

Outra maneira de manter a mata preservada são projetos de ecoturismo que atraiam turistas interessados em conhecer a rica biodiversidade e as belezas naturais da Mata Atlântica, ao mesmo tempo que trazem recursos e oportunidades para as populações que vivem na e da floresta. É uma forma de turismo com baixo impacto sobre a região e seus recursos naturais. Envolve comunidades locais, que podem hospedar os turistas em suas casas e prestar serviços como guias, revelando a exuberância da natureza que lhes serve de abrigo. Quando bem planejado e implementado, o ecoturismo também pode ter importante papel na conservação da natureza.

Alguns pólos de ecoturismo na Mata Atlântica, como o projeto de ecoturismo praticado no Ecoparque do Una (BA), dentro de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), são bons exemplos deste tipo de iniciativa.

O pólo Lagamar, criado em 1995 pela Fundação SOS Mata Atlântica, também tem o objetivo de ser uma alternativa de desenvolvimento sustentável aliada ao ecoturismo para os municípios de Cananéia, Iguape, Ilha Comprida e Pariqüera-Açu, ao sul do Estado de São Paulo, na área com a maior parcela contínua de Mata Atlântica.

As comunidades caiçaras desta região conseguiram manter preservados boa parte de seus costumes tradicionais, seja nos cercos de pesca, na culinária ou nas festas típicas. Neste caso, o ecoturismo é uma opção viável para a visitação e o cuidado com a diversidade biológica do Lagamar, que vai das florestas e praias desertas às cachoeiras, ilhas, manguezais e lagunas.

A educação ambiental é outra grande oportunidade para a Mata Atlântica, ao fazer com que indivíduos e comunidades assumam a responsabilidade pela proteção das áreas naturais. No Parque Nacional de Superagüi (PR), programas de educação e de alternativas econômicas para as populações locais, liderados pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), dão a chance de famílias da região permanecerem em suas áreas de origem, evitando alterações no ambiente de animais endêmicos como o mico-leão-de-cara-preta e o papagaio-de-cara-roxa, enquanto valorizam a produção de artesanatos inspirados nas espécies-bandeira de seu meio.

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