domingo, 27 de março de 2011

Para a caverna do morcego

 

Nas duas últimas seções, vimos as adaptações que ajudam os morcegos a se movimentarem, caçando insetos a noite toda. Na outra metade do dia, enquanto o sol brilha no céu, os morcegos levam uma outra vida. Eles passam o tempo pendurados de cabeça para baixo em um local escondido, por exemplo, o teto de uma caverna, a parte inferior de uma ponte ou o interior de uma árvore oca.
Há alguns motivos para os morcegos descansarem assim. Primeiro, ficam na posição ideal para decolar. Ao contrário das aves, os morcegos não podem decolar do chão. Suas asas não dão impulso suficiente para alçarem vôo de um ponto baixo, e as patas traseiras são tão pequenas e subdesenvolvidas que não conseguem correr para obter a velocidade necessária para a decolagem. Ao contrário, eles usam as garras dianteiras para subirem a um ponto elevado e, depois, alçam vôo. Ao dormirem de cabeça para baixo em um local alto, eles ficam prontos para alçar vôo se precisarem escapar do ninho.



Foto cedida Georgia Museum of Natural History
O grande morcego marrom (Eptesicus fuscus) é uma das espécies mais comuns na América do Norte e do Sul. Esses morcegos vivem em grandes bandos, quase sempre em sótãos, celeiros e outras estruturas construídas pelo homem.


Ficar pendurado de cabeça para baixo também é uma boa maneira de se proteger do perigo. Durante as horas em que a maioria dos predadores está ativa (sobretudo as aves de rapina), os morcegos se reúnem onde pouquíssimos animais pensariam em procurá-los e onde a maioria não consegue chegar. Na realidade, isso lhes permite desaparecer do mundo até que a noite caia novamente. Além disso, praticamente não há competição para esses locais de ninhos, pois outros animais voadores não conseguem ficar pendurados de cabeça para baixo.
Os morcegos têm uma adaptação fisiológica especial que lhes permite ficar pendurados assim. Para segurarmos um objeto, contraímos vários músculos do braço, que estão ligados aos dedos por tendões; quando um músculo contrai, ele puxa um tendão, que puxa um dos dedos, fechando-o. As garras de um morcego fecham do mesmo modo, mas seus tendões estão ligados apenas à parte superior do corpo, não a um músculo.
Para ficar de cabeça para baixo, o morcego voa até o local, abre as garras e encontra uma superfície para agarrar. Para que as garras se prendam à superfície, o morcego simplesmente relaxa o corpo. O peso da parte superior do corpo força os tendões que estão ligados às garras, fazendo com que se fechem. Visto que é a gravidade que mantém as garras fechadas, e não um músculo contraído, o morcego não gasta nenhuma energia para ficar pendurado de cabeça para baixo. Na verdade, o morcego continuará pendurado de cabeça para baixo caso morra nessa posição. Para se soltar da superfície que está segurando, o morcego flexiona outros músculos que abrem as garras.
A maioria das espécies de morcegos se esconde no mesmo lugar toda noite, reunindo um grande bando em busca de aconchego e segurança. Os morcegos são famosos pelos atos notáveis de altruísmo para defender o bando. Em alguns casos, quando um morcego está doente e não consegue caçar para se alimentar, outros do bando lhe trarão comida. Os cientistas não entendem completamente a dinâmica dos bandos de morcegos, mas não há dúvida de que são comunidades sociais complexas e integradas.
A exemplo de todos os mamíferos, os morcegos têm sangue quente, o que significa que eles mantêm a temperatura corporal internamente. Mas ao contrário da maioria dos mamíferos, os morcegos permitem que sua temperatura corporal caia até a temperatura ambiente quando não estão em atividade. Com a queda de sua temperatura, eles entram em um estado de torpor, em que seu metabolismo fica lento. Ao reduzirem a atividade biológica sem manterem uma temperatura corporal quente, os morcegos economizam energia. Isso é importante, porque voar a noite toda é uma tarefa árdua.
No inverno, quando as temperaturas ficam baixas durante meses, alguns morcegos entram em um estado de torpor mais profundo denominado hibernação. Isso lhes permite sobreviver durante os meses em que há escassez de alimentos. Outras espécies de morcegos seguem um padrão de migração anual, buscando climas mais frios nos meses quentes e climas mais quentes nos meses frios. É por isso que algumas regiões vivenciam "temporadas de morcegos" todo ano.
Quando os morcegos invadem as cidades, muitas pessoas ficam preocupadas à noite. A preocupação é de que os morcegos mordam, suguem sangue e até mesmo fiquem emaranhados no cabelo das pessoas. Mas, na verdade, todas essas ocorrências são raríssimas. Como veremos na próxima seção, os morcegos costumam ser inofensivos e muitas espécies são até benéficas para o homem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário