sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pequenos agricultores experimentam agroecologia

Pesqueira (PE) Ideias simples, algumas tradicionais e outras descobertas no dia a dia do campo, atraem pequenos agricultores interessados na troca de informações. Isso foi o que se viu no Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido, que reuniu mais de 300 pessoas de vários estados do Brasil, representantes da Argentina, Paraguai e Bolívia. O evento ocorreu em Pesqueira, entre os dias 26 e 29 de abril, na cidade sertaneja a 215 quilômetros do Recife, Pernambuco.

A organização do encontro foi feita pela 
Articulação do Semi-Árido (ASA), um fórum que reúne cerca de 700 ONGs com atuação no semiárido brasileiro. Algumas tecnologias tradicionalmente disseminadas pela organização foram detalhadas, como a cisterna doméstica, a barragem subterrânea, a cisterna calçadão, o canteiro econômico e o biodigestor. 

Outras práticas, foram conhecidas nas visitas a campo programadas no evento. Homens e mulheres que se orgulham por serem reconhecidos como experimentadores ansiavam pelos momentos em que agricultores falariam diretamente com seus pares sobre as suas experiências de produzir em áreas onde a chuva é pouca, sem regularidade e com seca duradouras.

Os agricultores destacaram a capacidade de transformação que as iniciativas proporcionam. Por exemplo, ao tomarem conhecimento do Programa um Milhão de Cisternas
, algumas mulheres da comunidade da Malhada Branca, em Buíque (a 258 quilômetros da capital pernambucana) resolveram acompanhar os encontros e se candidatarem aos benefícios da iniciativa. “Antes, a gente achava que reunião só servia para aposentados ou para tirar dinheiro”, conta Maria José Dias, líder da Malhada Branca. “Agora, aprendemos a construir cisternas e também a construir nossa cidadania”, afirma.

Com quase 400 mil cisternas espalhadas no sertão dos nove estados do Nordeste e no semiárido de Minas Gerais e do Espírito Santo, o Programa um milhão de cisternas ainda não atingiu o número redondo a que se propõe, mas já modificou a paisagem das casas de porta e janela em local ermo e em terra seca. Tornou-se comum visualizar, ao lado da casa simples com fogão de lenha no fundo , um cilindro construído com placas de cimento capaz de guardar 16 mil litros de água da chuva, captada por uma tubulação que começa nas calhas dos telhados. O coordenador executivo da ASA, Naidison Baptista, foi enfático ao falar na abertura do encontro. “As 400 mil cisternas significam dois milhões de pessoas que deixaram de beber água com lama”.

Principal iniciativa da ASA, a construção de cisternas domésticas não é o único programa do fórum. Como esses reservatórios servem apenas para o consumo doméstico, foi criado o modelo cisterna calçadão, para uso na produção agrícola. Maior, com capacidade para acumular 52 mil litros, é construída próximo à horta, à plantação ou à criação. Ao lado da cisterna, em um plano mais alto, uma área plana com 200 metros quadrados (10m x 20m) é cimentada, com uma pequena parede de 20cm. Em um ponto mais próximo à cisterna, uma espécie de grande ralo serve para saída da água da chuva que cair no calçadão. No caso do agricultor Lourival Guimarães Silva, “seu” Louro para os vizinhos em Buíque, o investimento foi tão produtivo que ele pensa em repeti-lo. “Eu quero construir outra”, planeja.

Seu Louro utiliza a cisterna calçadão para a produção de hortaliças colocando em prática outra sacada apropriada para o semiárido, o canteiro econômico. Tudo sob preceitos da agroecologia. O canteiro econômico representou uma redução de 30% no volume de água necessária para produzir diferentes tipos de alface, coentro, cebolinha, rúcula, espinafre. Esse modelo é feito ao se cavar uma profundidade de 20cm a área do canteiro, no caso do seu Louro: 6m x 2m. Depois de cavado, estende-se uma lona plástica. Ao longo e no centro dos 6m coloca-se um cano de PVC com furos a cada 20cm. Sobre os furos, cacos de telha ou pedras para a terra não entupir (como se faz em vasos de plantas). Cobre-se tudo com terra e esterco. “Nada de agrotóxico”, frisa o agricultor. Ao regar, o agricultor derrama água no funil (feito de garrafa PET), na entrada do cano que está enterrado e cheio de furos. A água será distribuída pelo cano inteiro, como em um sistema de irrigação. A água não será absorvida pelo solo, porque embaixo do cano está a lona plástica, logo há sensível economia.

Contra o ataque de pragas e larvas, nada de defensivos, ensina seu Louro. Aplica algumas fórmulas agroecológicas, como a diversificação de culturas (para enganar a larva) e o uso de plantas “com cheiro”, como flores e ervas, para afastar insetos. O agricultor também guarda urina de vaca, eficiente contra alguns insetos vetores de larvas. “O veneno não mata os bichos, apenas cria novos insetos com mais resistência”, adverte.


fonte:o eco

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