segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ser ‘pai’ é atitude comum entre várias espécies de animais, dizem cientistas

Ser pai dá trabalho. Que o digam os pinguins-imperadores, crocodilos-do-Nilo, emas e outras espécies de animais em que o macho assume a responsabilidade de cuidar dos ovos, proteger os filhotes e alimentá-los, ao menos por um certo período da infância, com ou sem a ajuda da fêmea.
Biólogos especialistas em comportamento animal ouvidos pelo G1 afirmam que a atitude de “ser pai” está presente em dezenas de espécies no planeta, principalmente entre os vertebrados. Dentro desse grupo, pássaros e primatas se destacam, segundo o professor Robert Young, coordenador da pós-graduação em zoologia da PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais).
Assumir a paternidade é um comportamento mais comum entre os animais monogâmicos, isto é, que têm parceiros fixos, diz Young. Ele aponta que cerca de 90% das aves são socialmente fiéis à parceira.
“Em muitas espécies de pássaros, observamos esta situação: macho e fêmea cuidando dos filhotes juntos. Se o macho morre, a fêmea não costuma dar conta de criá-los sozinha”, pondera.
Em alguns tipos de mamíferos, as fêmeas são atraídas por indivíduos que assumem o papel de pai. Outro fator que leva os machos a cuidarem da prole é a preservação da espécie, principalmente no caso de seres grandes, ressalta o professor da PUC-Minas.
“Em uma espécie com poucos filhotes ou bebês grandes, a lógica é ‘proteger o investimento’. É um comportamento normal, porque os pais investem mais energia na criação”, explica.
Um dos exemplos mais comuns de “paizão” é o macho da ema, ressalta Young. O bicho começa preparando o ninho, o que acaba atraindo várias fêmeas. Elas procuram o futuro “pai” de seus filhotes, copulam e abandonam os ovos. O pai é, então, quem fica responsável por cuidar da cria, dar comida e protegê-la.
“É um ganho para a fêmea, já que ela não tem que ficar alimentando os filhotes, e um ganho para o macho, porque ele repassa seus genes para várias fêmeas”, afirma o pesquisador.
Ambiente hostil – Ambientes hostis ou com poucos recursos, como desertos e geleiras, também são fatores que evolutivamente fizeram os machos assumirem mais o papel de pai.
É o caso de algumas espécies de pinguins. Como esses animais têm que ir ao mar em busca de alimentos, os casais se revezam para cuidar dos filhotes, informa o professor da PUC-Minas.
“Há situações extremas, como o pinguim-imperador, em que a fêmea bota o ovo e o deixa para o macho. Como eles se reproduzem no interior de um continente gelado, levam semanas até chegar ao mar para comer. Então o macho fica no ninho enquanto a fêmea sai”, diz Young.
Como a fêmea gasta muita energia para produzir e pôr os ovos, e não aguentaria muito tempo sem comer, é ela que sai à caça. O macho se torna, assim, o primeiro ser vivo que os filhotes encontram quando nascem.
No Brasil, um tipo de roedor encontrado na Bahia, à margem do Rio São Francisco, tem atitudes paternais e é uma exceção entre seus “parentes”, aponta a professora de biologia Elisabeth Spinelli, da Universidade de São Paulo (USP).
Conhecido como rabo-de-facho, o rato possui “primos” na Mata Atlântica que são territoriais e não vivem em grupo. Já esses roedores são coloniais, ou seja, vivem em grandes grupos, em que uns protegem os outros.
O que aconteceu com essa espécie, segundo a professora, foi uma grande mudança, com a adoção de um comportamento filiativo.
“Essa atitude permitiu que a espécie sobrevivesse em um ambiente muito distinto do encontrado na floresta”, afirma.
O fato de o macho proteger os filhotes também é uma vantagem evolutiva em um clima como o semi-árido.
“Se eles não tivessem esse comportamento, provavelmente não sobreviveriam nessa região”, pondera Elisabeth.
Dentro da boca – Outro exemplo dado pela professora é o crocodilo-do-Nilo, cujo macho fica com os ovos dos filhotes na boca, para protegê-los. “Com isso, eles mantêm uma temperatura constante, mais alta”, o que é positivo para a cria.
Elisabeth diz, no entanto, que o cuidado e o contato dos pais ocorre por um tempo relativamente curto na maioria das espécies, ao contrário dos seres humanos.
“Existe uma certa fase na vida dos animais em que eles precisam se desenvolver de maneira independente”, destaca.
As espécies que mais se aproximam dos homens são as que criam seus filhotes até próximo ao que se poderia chamar de “adolescência”, diz Young.
“No caso das baleias orcas, os filhotes podem ficar com os pais até por volta dos 15 anos”, cita. Quanto mais complexas as relações sociais e as regras de sobrevivência, mais tempo as crias vão precisar passar com os pais, explicam os pesquisadores. (Fonte: Rafael Sampaio/ Globo Natureza)

Nenhum comentário:

Postar um comentário