quinta-feira, 19 de abril de 2012
Moradores de áreas que serão alagadas por Belo Monte aguardam indenização
Boa parte desses moradores já foi cadastrada pela empresa Norte Energia, responsável pela construção e operação da usina. “Eles [Norte Energia] têm boas promessas”, disse o agricultor Francisco Roque de Sousa, de 52 anos. “Disseram que vão construir uma casa para a gente e ainda levarão a nossa casa [de madeira, suspensa em um brejo no Igarapé Ambé] para o lugar que escolhermos, a uma distância de até 150 quilômetros”, acrescentou.
O agricultou disse que está “confiante” de que fará um bom negócio. “Soubemos que, na zona rural, eles pagam bem pelas terras, principalmente na região do Sítio Pimentel”. O pagamento de indenizações às famílias que serão removidas tem provocado a alta dos preços de terrenos e sítios em Altamira. “Tem lote que custava R$ 30 mil e, agora, pedem R$ 60 mil. Perderam a noção da coisa”.
A índia Solange Maria Curuaia, de 48 anos, também acredita que fará um bom negócio caso consiga trocar a palafita onde mora, em Ambé, por uma casa na cidade. “Minha preocupação maior é não receber a casa, porque não quero voltar para a aldeia nem ser mandada por cacique”.
Segundo ela, a Norte Energia prometeu, além de uma casa para ela, outra para a irmã Mônica Curuaia da Silva, com quem divide o barraco sobre palafita. “Disseram que cada um da família terá direito a uma casa de alvenaria. Vai ser bom porque estamos morando em um lugar perigoso por causa da proximidade com a estrada e pelo risco de enchente no período de chuva”. A casa das irmãs índias já foi alagada algumas vezes.
Morador do Igarapé Panelas, o oleiro Osvaldo Bispo dos Santos, de 61 anos, já foi cadastrado e recebeu dos representantes da Norte Energia a garantia de que terá o que preferir: indenização, casa ou crédito. “Optei pela indenização e, agora, estou aguardando a proposta. Só saio de lá se o valor for suficiente para construir minha casa, do meu jeito, e com a minha olaria para fabricar meus tijolos.” Com a olaria, Osvaldo consegue gerar uma renda entre R$ 5 mil e R$ 6 mil, que divide com dois trabalhadores.
Marconi Ribeiro de Sousa, 38, também é oleiro no Igarapé Panelas, mas não sabe se conseguirá manter a atividade depois da remoção. “Não existe outra região para montar olaria, por aqui”. Ele prefe ser indenizado e quer receber cerca de R$ 200 mil. O valor é justificado pelo colega Ananias Brasilino Pereira, de 45 anos. “A gente calcula esse valor levando em consideração o tempo de trabalho que teríamos pela frente”. Eles dizem que tiram, atualmente, R$3 mil por mês. “A Norte Energia propôs nos capacitar também para outras áreas”, acrescentou.
Dono de uma peixaria “que também é casa e balneário”, na qual mora há 17 anos, Remi Antônio Fistarol, de 62 anos, disse que já receu a visita “de um bocado de gente da empresa” para avaliar a propriedade que está no nome do filho. “Quero indenização, mas que leve em conta que esse é o meu sustento”. Ele diz que, no verão, consegue tirar entre R$ 10 mil e R$ 12 mil reais, dinheiro que sustenta quatro pessoas. “Com a indenização, pretendo montar um outro negócio”, disse sem ainda ter ideia de qual será a nova empreitada.
A Norte Energia informou, no início da noite, por meio da assessoria, que “não foi finalizado o levantamento dos gastos com a implantação de reassentamentos e indenizações a serem pagas aos moradores que serão remanejados para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte”. A empresa informou ainda que “trabalha na conclusão do cadastro socioambiental das famílias da área de influência do empreendimento. A previsão de finalização desse cadastro é para junho”.
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