quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

COP17 adiou problema, dificultando o combate às mudanças climáticas, dizem especialistas

Especialistas afirmam que uma promessa de acordo global com metas obrigatórias para 2020 – resultado da última Conferência do Clima da ONU (a COP-17) – dificulta o combate às mudanças climáticas. Reportagem de Karina Ninni, em O Estado de S.Paulo.

“Não entendo porque estão chamando isso de acordo histórico. Minha impressão é de que o mínimo necessário para sinalizar que os países terão de mudar seu comportamento econômico não foi feito”, afirma o professor da área de sociologia econômica da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA/USP)Ricardo Abramovay.

“Essa euforia está vinculada ao fato de que não havia expectativa para o segundo período do Protocolo de Kyoto”, diz Osvaldo Stella, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Para Abramovay, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) relativiza as reduções.

“As reduções de emissão por unidade de PIB são relativas. A eficiência do sistema econômico em termos de emissões está aumentando e hoje emitimos 30% menos por unidade de dólar que em 1980. Mas, como o PIB global não para de crescer, continuamos emitido muito.”

Problema acumulado. Para o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, é bastante grave que não haja um acordo vinculante para antes de 2020. “O que estava sendo discutido era, pelo menos, honrar os compromissos assumidos em Copenhague, na COP-15. Se não fizermos nada até 2020, vai ficar muito mais difícil atingir metas futuras”, avalia.

Abramovay concorda. “No ano passado, a Price Waterhouse calculou que, para evitarmos o aumento da temperatura, cada unidade monetária teria de ser produzida com 4,7% menos carbono que no ano anterior ao longo dos próximos 50 anos. Se você não atinge o que deveria, a cada ano a taxa de redução de emissões terá de ser maior.”

Amazônia. Fearnside chama atenção para a Amazônia. “É preciso restringir a quantidade de emissões a, pelo menos, 400 partes por milhão em volume (ppmv). O número mais citado hoje é 450 ppmv. Com esse número, a Amazônia vai sofrer com secas e queimadas.”

Stella, do Ipam, diz que a reunião tem um saldo bom: ter derrubado o paradigma dos países do Anexo 1 (industrializados). “É positivo que todos os países tenham de se comprometer com metas obrigatórias depois de 2020, mas o acordo ficou muito aquém do necessário, sobretudo a prorrogação do Protocolo de Kyoto. Antes, os países do chamado anexo 1 representavam 30% das emissões globais. Com a saída de Japão, Rússia e Canadá, esse porcentual caiu para 15%”, afirma.

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