quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Artigo da revista 'Nature', com coautor da UFMG, revela novas mudanças ambientais na Amazônia

Em destaque na edição da revista científica inglesa Nature que circula nesta quinta-feira, 19, artigo com participação do pesquisador da UFMG, Britaldo Silveira Soares Filho, relata novas e preocupantes evidências de alterações no sistema hidrológico e no equilíbrio dos ciclos de carbono na Amazônia, produzidas pela ação humana.

Segundo os autores, as regiões mais afetadas são o sul e leste da bacia amazônica, onde ocorreu intenso desmatamento pela expansão agrícola, especificamente em áreas dos rios Tocantins e Araguaia. O efeito mais persistente observado, e principal evidência relatada no artigo, foi o aumento no volume de sedimentos e na descarga durante a estação chuvosa, nessas áreas da bacia amazônica.

O problema pode ser a porta de uma mudança de repercussão mais global para o equilíbrio do ciclo de carbono, em que a Amazônia deixaria a condição de sumidouro para se tornar fonte de carbono. Isso ocorreria devido à perda de seu armazenamento pelas florestas, como impacto de secas mais agudas, e também pelo carreamento de maior volume de material orgânico nos rios, provenientes do desmatamento e queimadas.

Denominado The Amazon basin in transition, o trabalho se baseia sobretudo em pesquisas recentes realizadas no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), um dos maiores programas no mundo dedicados a pesquisa sobre meio ambiente.

Na opinião dos cientistas, a dimensão do conjunto de descobertas do LBA pressiona por mais investimentos para melhorar a capacidade científica, tecnológica e de recursos humanos na região, visando entender a dinâmica dos sistemas da Amazônia para com isso mitigar impactos das transições biofísicas e socioeconômicas locais.

"As interações entre desmatamento, fogo e as mudanças climáticas são susceptíveis de alterar ainda mais o armazenamento de carbono, padrões de precipitação e vazão dos rios na região", escrevem.

Para conhecer melhor esse sistema em transição, eles destacam que as novas pesquisas deveriam focar as interações entre cobertura do solo, estoques de carbono, recursos hídricos, a conservação de habitat, saúde humana e desenvolvimento econômico, através da modelagem de cenários futuros de mudança no clima e no uso da terra.

Pressões

"Os seres humanos têm sido parte do sistema da floresta e da bacia amazônica por milhares de anos, mas a expansão e intensificação da agricultura, exploração madeireira e núcleos urbanos durante as últimas décadas têm sido sem precedentes", escrevem os pesquisadores no artigo.

Dados apresentados por eles mostram a dimensão da ocupação: entre 1960 e 2010, a população na região aumentou de seis milhões para 25 milhões, enquanto a cobertura vegetal diminuiu em 20%.

Ações para conter o desmatamento mostraram eficácia entre 2004 e 2011, ao reduzir o desmatamento anual em 68%. "No entanto, novas pressões para expansão da agricultura e, consequentemente, para afrouxar a legislação ambiental podem comprometer esse esforço”, observa Britaldo Soares Filho.

No artigo, os pesquisadores registram ainda que o sistema fluvial amazônico produz pelo menos 20% da água doce do mundo, ao passo que a floresta local estoca cerca de 100 bilhões de toneladas de carbono, "que é equivalente a mais de dez anos de emissões mundiais de combustíveis fósseis".

Em função da magnitude dos dados e das evidências de transição biofísica na região, eles reforçam que a manutenção da integridade do bioma e dos serviços ambientais que ela fornece para as comunidades locais, regionais e globais, "exigirá uma melhor compreensão da vulnerabilidade e resiliência dos ecossistemas amazônicos em face das mudanças em curso".

Em texto de divulgação sobre o artigo, a revista Nature, endossando análise dos autores, destaca que, embora a Amazônia seja resistente a perturbações individuais, como a seca, distúrbios múltiplos podem aniquilar sua resiliência.

"Os efeitos das mudanças climáticas globais e regionais interagem com a mudança de uso da terra e fogo, aumentando a vulnerabilidade dos ecossistemas florestais à degradação. O artigo fornece um quadro para a compreensão das associações entre a natural variabilidade, fatores de mudança (como as alterações climáticas e influências humanas), suas respostas e feedbacks complexos na bacia Amazônica", sintetiza a revista.

O artigo tem como primeiro autor Eric Davidson, cientista e diretor executivo do The Woods Hole Research Center, situado nos Estados Unidos, e coautores outros pesquisadores norte-americanos, de Porto Rico e das instituições brasileiras USP, UnB, Embrapa e UFMG - Centro de Sensoriamento Remoto, especializado em modelagem ambiental, do Instituto de Geociências.

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