terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Indústria brasileira: a lista dos impactos positivos pode ficar maior

JMA-Jornal Meio Ambiente por Marcia Dias

1326 300x195 Indústria brasileira: a lista dos impactos positivos pode ficar maior
Para um país que tira a maior parte de sua riqueza da terra e cuja indústria ainda é predominantemente de base ou extrativista, os desafios em sustentabilidade começam e se confundem com aquilo que temos de mais rico, o território. É dele que o homem e qualquer outra espécie viva retiram o que precisam para sobreviver, sendo, ainda, espaço de transformação ambiental, social, econômica e cultural de uma sociedade, reunindo todas as suas características e seus conflitos.
Falar de sustentabilidade no Brasil é, portanto, ampliar a discussão que assombra as grandes cidades – como a emissão de CO2 pelos veículos – ou as sociedades cuja economia está pautada nos bens de consumo e em serviços, que estão preocupadas com desafios como logística reversa e reciclagem. Não que tais temas não sejam relevantes para o país, mas nossa lista de cuidados deve começar por assuntos como biodiversidade, uso e ocupação do solo, direitos humanos, erradicação da pobreza, educação e muitos outros que estão diretamente ligados às atividades econômicas que praticamos.
Levantamento recente sobre devastação ambiental e trabalho escravo na cadeia produtiva do aço aponta que, apesar de todos os cuidados que o setor vem empregando para assegurar práticas sustentáveis, os desafios para garantir que toda a cadeia siga os padrões de gestão e desempenho responsáveis ainda representam um risco real para a indústria. E a repercussão acaba chegando até a outra ponta da cadeia, representada pelas montadoras de veículos e pelos fabricantes de eletrodomésticos, aviões e computadores.
Dessa forma, estabelecer o desenvolvimento territorial integrado, equilibrando as vertentes ambiental, social, econômica e cultural, dentro de um modelo de governança que extrapole o campo de decisão do conselho de administração da empresa, estabelecendo o engajamento dos diversos atores que compõem o território – e isso inclui toda a cadeira produtiva – é o modelo de gestão que deve ser perseguido pelas corporações nos dias de hoje.
No final das contas, em termos empresariais estamos falando da usual avaliação de riscos e, por consequência, de oportunidades. Naturalmente que, na época da Revolução Industrial, o fator de risco para os negócios deveria passar muito mais pela capacidade produtiva que pela gestão dos recursos naturais e dos direitos humanos e trabalhistas. Do contrário, milhares de hectares de florestas nativas da Europa não teriam sido derrubados, e mulheres e crianças não fariam jornadas de 14 horas de trabalho por dia.
Hoje, os riscos e oportunidades dos negócios estão atrelados, em grande medida, à capacidade que uma empresa tem de se perpetuar, ao menos para os acionistas que buscam rentabilidade de longo prazo. É o caso dos fundos de pensão, que dependem de seus investimentos para pagar aposentadorias, e sabem que é melhor investir em empresas que priorizam de fato práticas sustentáveis. Porque gerenciar com sustentabilidade significa diminuir riscos que possam parar suas operações, aumentar o valor de seus empréstimos e seguros, enfim, fatores que venham a arranhar a reputação da empresa e seu valor.
E já que sustentabilidade é uma importante componente que vem sendo mensurada pelo mercado, os critérios para esta avaliação vêm se refinando. Além dos já conhecidos índices de sustentabilidade empresarial, a veracidade do que as empresas comunicam como sustentabilidade também será medida.
Palavra da moda, na boca de dez em cada dez empresários quando vão falar sobre o diferencial de seus negócios, a sustentabilidade vem sendo usada, muitas vezes, como “greenwashing”, termo utilizado para designar um procedimento de marketing utilizado por uma organização com o objetivo de passar para a opinião pública uma imagem ecologicamente responsável, muitas vezes sem comprovação.
Por esta razão, a partir de agosto deste ano, as propagandas veiculadas no Brasil não deverão mais destacar atributos sustentáveis de produtos e serviços se as empresas não puderem comprovar sua eficiência. As regras foram estabelecidas pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que destacou o fato de tais propagandas muitas vezes não informarem e ainda confundirem o consumidor.
Diante de tantos desafios, a indústria brasileira precisará mesmo é investir no material mais importante que ela tem: o humano, dentro e fora dela – empregados, comunidades, poder público, ONG´s, sindicatos – todos devem estar aptos para saber quais são seus papéis e responsabilidades. São muitas as regiões de nosso país que não estão sequer preparadas para receber investimentos e altos níveis de arrecadação de impostos. Caberá muitas vezes, portanto, à empresa capacitar o poder público para esta gestão, qualificar a mão-de-obra local e desenvolver os fornecedores.
Já foi o tempo em que a lista dos impactos negativos dos empreendimentos era necessariamente maior que a dos positivos. As primeiras décadas deste século serão definitivas para o destino da humanidade, por esta razão é imprescindível que um número maior de pessoas esteja motivado em fazer com que a lista dos impactos positivos seja mais farta para todos nós.
* Marcia Dias é jornalista, coordenadora de Responsabilidade Socioambiental no Grupo EBX, atualmente responsável pela implantação do Plano de Sustentabilidade do Grupo.

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