sábado, 8 de outubro de 2011

Economia verde dá os primeiros passos


Por Gazeta do Povo

Viver e sobreviver em meio à Mata Atlântica se tornou um desafio em tempos de sustentabilidade. Restrições ambientais limitaram as atividades econômicas convencionais na floresta, mas, por outro lado, contribuíram para o surgimento de uma economia verde, alinhada à conservação da natureza e da biodiversidade.

No Paraná, o exemplo mais emblemático dessa economia é visto em Guaraqueçaba, no litoral norte do estado. Com mais de 2 mil quilômetros quadrados, o município possui o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil, fator decisivo para que a região se tornasse área de preservação ambiental, na década de 80.
 / Pedro Rosa lamenta que a falta de planejamento tenha forçado os jovens a deixar Guaraqueçaba 
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Pedro Rosa lamenta que a falta de planejamento tenha forçado os jovens a deixar Guaraqueçaba
Sob os olhares dos órgãos de proteção ambiental, os moradores das 53 comunidades inseridas na APA de Guaraqueçaba tiveram de reinventar a economia local, antes baseada na agricultura convencional e no extrativismo. “O caminho encontrado foi a união por meio de cooperativas e associações de produtores”, afirma Ivair Barbosa Colombes, secretário de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca de Guaraqueçaba. No entanto, mais de 20 anos após a criação da APA, com poucos recursos para incrementar a produção, os moradores lutam para conciliar a conservação e geração de renda.
Na porção litorânea do município (que inclui as ilhas), a pesca e o cultivo de ostras garantem a renda dos moradores. Colombes diz que o objetivo é fortalecer a Associação de Pescadores, recém-criada, para eliminar os atravessadores que ainda vendem a maior parte do pescado. Na parte continental do município, a base da economia é a produção de arroz, banana, farinha de mandioca e palmáceas [palmeira real e pupunha], tudo vendido diretamente aos compradores por meio das associações de produtores das comunidades.
Na propriedade agroflorestal do agricultor Francelino Guilherme Cogrossi, 59 anos, árvores nativas da Mata Atlântica – como a canela amarela, o cedro e a figueira branca – dividem o espaço com bananeiras, hortaliças, palmáceas e uma série de outros cultivos. Apesar da variedade de plantios, ele diz que a banana, a palmeira real e a mandioca são os destaques da propriedade, que é ponto de parada para turistas. Nascido em Potinga, comunidade vizinha a Tagaçaba, o agricultor conta que a preservação da natureza era assunto sério para o pai. “Ele sempre nos ensinou a trabalhar em parceria com a natureza”, relembra.
Desafio
A consolidação da economia verde na região é o grande desafio dos moradores, segundo Pedro Rosa, presidente da Associação de Produtores de Tagaçaba, comunidade situada na parte continental da APA de Guaraqueçaba. Há mais de 30 anos na comunidade, Rosa acompanhou a transformação de Guaraqueçaba em uma área de preservação ambiental, em 1985, e conta que não houve um estudo social na região para determinar o impacto das restrições ambientais no modo de vida e trabalho dos moradores. “A falta de planejamento levou à evasão dos jovens para as cidades, comprometendo a força produtiva da região”, diz.
Para Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) – que desenvolve projetos na APA de Guara­queçaba –, o desenvolvimento da região depende de um projeto sério de gestão que elimine a ideia de paraíso autossustentável. “O modelo de desenvolvimento precisa agregar valor à maior riqueza da região, que é a biodiversidade, mas sem exauri-la”, afirma.

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