segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Curitiba não é mais a "Capital ecológica", diz Rasca

 
Por Bem Paraná
Rasca: modelo de planejamento esgotado e estagnação (foto: Valquir Aureliano)
Com a experiência de quem foi Secretário de Estado do Meio Ambiente entre 2006 e 2010, e presidente do Instituto Ambiental do Paraná entre 2003 e 2006, o deputado estadual e pré-candidato do Partido Verde à prefeitura de Curitiba, Rasca Rodrigues, aponta que Curitiba há tempos deixou de merecer o título de “capital ecológica”. E não por culpa de seus cidadãos, que ainda exibem um alto grau de consciência ecológica, mas pela incapacidade do grupo que há décadas comanda a cidade em enfrentar os desafios que a gestão do meio ambiente apresenta. Prova maior disso, afirma, é a falta de solução para um problema tão básico como a destinação dos resíduos sólidos produzidos pelos curitibanos. “Curitiba é a capital mais atrasada no tratamento do lixo do País”, diz ele, que acompanhou de perto o processo que resultou no fechamento do aterro da Caximba.

Para Rodrigues, a falta de alternância no poder fez com que o grupo do atual prefeito Luciano Ducci (PSB) perdesse a capacidade de antecipar-se aos problemas provocados pelo crescimento da cidade. Os sintomas do esgotamento desse modelo, afirma, estão cada vez mais evidentes em situações como o trânsito cada vez mais congestionado, a queda de qualidade do transporte público, na demora no atendimento especializado em saúde e no crescimento dos índices de criminalidade.

Em entrevista exclusiva ao Jornal do Estado, o deputado do PV fala sobre os desafios a serem enfrentados por Curitiba, e defende a candidatura própria do partido à prefeitura como forma de apresentação de uma alternativa de cidade sustentável.

Jornal do Estado — O senhor disse recentemente que a administração municipal de Curitiba está “cansada”. Porque?
Rasca Rodrigues — Isso está claro na perda de espaço na vanguarda da política pública. Pesquisa recente apontou Curitiba como a sexta capital em ações ambientais. Dentro do que o PV prega em suas diretrizes há a preocupação de que nossa cidade tenha um retrocesso, perca o protagonismo das políticas públicas ambientais do País. Com exceção de programas como o de erradicação de espécies exóticas e adoção de calçadas impermeáveis, não vemos isso mais. Os parques estão poluídos. Os rios não melhoraram. O Barigui - que é um símbolo da cidade - está com uma profundidade em que os pássaros não precisam mais voar, atravessam a pé.
JE — O título de “capital ecológica” então não expressa mais a realidade?
Rasca — A prática não condiz com o discurso. O curitibano ainda tem uma consciência ambiental forte. Mas a administração municipal perdeu a capacidade de apontar caminhos.

JE — Fala-se muito no esgotamento de um modelo de planejamento urbano? Concorda?
Rasca — Concordo. Não somos mais protagonistas. Nossas canaletas têm que deixar de ser pista de teste da Volvo. Precisamos ampliar os modais. Há uma insistência em colocar esse modelo como o melhor do Brasil e do mundo. E não é. Precisamos ter alternativas para tirar os carros das ruas. Em Porto Alegre tem um ônibus com ar-condicionado, jornal. Custa um pouco mais, mas você vai e volta do trabalho com conforto. Hoje, em muitos pontos de Curitiba, as pessoas não conseguem sequer entrar nos ônibus porque eles estão superlotados. E aí vem a redução do número de usuários do transporte coletivo e o aumento de carros nas ruas. Por causa do desconforto e do risco de não assiduidade.

JE — Acha que houve uma acomodação do grupo que comanda a cidade há décadas?
Rasca — Eles perseguem um modelo ultrapassado. O melhor transporte coletivo é o que tem multiplicidade, com metrô, transporte sobre trilho, transporte elétrico. Nossos pontos de ônibus são os únicos do mundo que não têm banco para sentar. Perguntei isso para o (Cássio) Taniguchi e ele disse que era para mostrar que o transporte é eficiente e não dá tempo para sentar. Ou seja, é mais importante o marketing do que o conforto das pessoas. O planejamento hoje está submetido muito mais ao interesse de grandes grupos econômicos do que ao interesse público e ao futuro da cidade.

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