segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ambientalistas estão perdendo a batalha contra a degradação da Serra do Japi

Por Agência Bom Dia

Voluntários recolheram cerca de 250 kg de lixo das margens de duas cachoeiras durante ação promovida neste sábado
O som  dos atabaques ecoa de longe. No meio da floresta de mata atlântica o ritual de purificação reúne seguidores da umbanda. A manhã ensolarada de primavera é um convite para fazer comunhão com a natureza. Mas o que serve para limpar a alma, também pode emporcalhar o meio ambiente. Entre os 250 quilos de lixo recolhidos neste sábado da Serra do Japi, grande parte era de objetos religiosos e oferendas aos orixás.

A ação foi realizada por 32 voluntários reunidos pela Coati (Centro de Orientação Ambiental Terra Integrada), ONG jundiaiense convidada para as atividades do Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias. Em duas horas de ação, o  grupo percorreu riachos e duas cachoeiras às margens da estrada do Santa Clara.

Na cachoeira da Macumba, um susto. A voluntária Anna Karina Azevedo, 24 anos, por pouco não se feriu ao recolher, debaixo de pedras, uma faca com lâmina afiada. “É um absurdo deixarem um objeto como esse por aqui. Uma criança  ou mesmo um animal silvestre poderia ter se cortado”, afirmou. Pós-graduanda de engenharia ambiental, Karina sente revolta ao ver o lixo espalhado pela mata. “É frustrante. A gente vem, limpa e daqui a alguns dias toda a sujeira vai estar aí de novo”, lamenta.

Faca e utensílios de metal são alguns dos objetos utilizados nos rituais de umbanda. Mas são as oferendas com alimentos, bebidas e velas que provocam os maiores impactos ambientais. “Além da sujeira que causam, algum animal pode vir a comer esses restos de alimentos, engolir junto pedaços de plástico, vela e acabar morrendo”, observa Flávio Gramolelli, 46, um dos diretores da Coati.

“A Serra do Japi é uma das últimas áreas verdes da região, importante reserva de água para as futuras gerações”, destaca. “E além do lixo que os visitantes deixam nela, o desmatamento avança com a pressão imobiliária”. Ele acredita que somente a transformação da reserva em parque nacional seria capaz de implantar políticas de preservação no local. “A maior parte da serra é de fazendas, propriedades particulares, o que dificulta a gestão”.


BIZARRICES Entre o lixo coletado, além das previsíveis latas de alumínio, copos plásticos, embalagens de salgadinhos e garrafas PET e de vidro, havia uma barra estabilizadora de um Chevrolet Corsa.

“Isso nem chega a ser tão estranho, em outras ações já encontramos dentro do rio um carro inteiro, sofá e até geladeira”, relata o voluntário Ulisses Nicioli Júnior. “É muito chato que isso continue se repetindo, as pessoas sabem que essa é uma área de proteção ambiental, mas deixam seu lixo aqui”.

Mas falta de educação não é um problema exclusivo na Serra do Japi. “Em nosso outro núcleo, em Munhoz [sul de Minas Gerais], chegamos a recolher embalagens de agrotóxico na mata”, conta Flávio. Além de Jundiaí e Munhoz, a Coati também desenvolve ações na Estação Ecológica da Jureia, no litoral sul do Estado. Trabalho de formiguinha, luta de guerreira.

Faxina nos rios e praias  O Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias foi instituído há 20 anos numa ação  realizada no litoral da Austrália. “A poluição dos mares é global. Na Jureia, já recolhemos frasco de xampu que as correntes trouxeram da China”, diz Flávio Giamolelli, diretor da Coati. Em Jundiaí, a ação foi patrocinada pela Coca-Cola Femsa.
Incêndios na mata
Três grandes incêndios registrados em Jundiaí, Cabreúva e Itupeva estão dando trabalho ao Corpo de Bombeiros. De acordo com eles, somente a chuva pode apagar as chamas, pois o tempo seco espalha os focos e não é possível controlar o fogo.

Neste sábado, parte da mata do Morro da Baleia, na Vila Maringá, em Jundiaí, voltou a pegar fogo. O local já sofreu dois grandes incêndios no mês passado, sendo que o combate contra um deles durou mais de sete dias.

Em Cabreúva, o fogo na região da Serra dos Cristais ainda não foi controlado. As chamas já duram mais de cinco dias. Em Itupeva a situação também é complicada. Uma força tarefa foi montada com Bombeiros de várias cidades e homens do Exército. As chamas que já duram dias consomem a mata nativa na Serra de Inhandjara.

GM pede para religiosos recolherem oferendas
Durante a ação da Coati, a GM (Guarda Municipal) de Jundiaí prestou apoio ao grupo de voluntários. Na cachoeira da Macumba, onde era realizado um ritual de umbanda, os patrulheiros da Divisão Florestal pediram aos religiosos que recolhessem as oferendas ao final da reza.

“A Constituição garante a liberdade religiosa, mas sujar áreas de preservação pode ser caracterizado como crime ambiental”, afirma o guarda da Divisão Florestal Israel Mendes de Oliveira. O GM também alertou para  o som das batucadas. “Principalmente nessa época de reprodução das aves, o barulho afeta os animais”.

Sem se identificar, uma mulher que participava do ritual considerou abusiva a intervenção da GM. “Estamos em um local aberto, isso é um absurdo”, disse ao BOM DIA. Ela garantiu que nenhum lixo seria deixado no local, mas se mostrou contrária ao recolhimento de velas. “Não vejo problema em deixar velas aqui”.

Para os voluntários da Coati, é uma questão de poluição ambiental. A parafina, matéria-prima da vela, é derivada do petróleo.

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