domingo, 27 de fevereiro de 2011

Turismo ameaça belezas naturais de Paraty, no Rio

Estudo apontará a capacidade das praias e trilhas da região de Trindade para receber turistas sem que ocorra degradação ambiental; no ano-novo 2009-2010, durante nove dias, 35,8 mil turistas estiveram na localidade, cuja população é de mil pessoas

Jonne Roriz/AE
 
Paraíso. Praia do Rancho, em Trindade, na região do Parque Nacional da Serra da Bocaina; calmaria de fevereiro constrsta com cheia dos feriados e férias

Mas o turismo desordenado e a falta de estrutura, como coleta e tratamento de esgoto, ameaça o lugar. Levantamento feito no verão de 2009/2010 mostrou que a região recebeu em nove dias, no feriado do ano-novo, 35,8 mil pessoas - quase o mesmo número de habitantes de Paraty (37,5 mil). No carnaval, o número de turistas em seis dias chegou a 22,4 mil.
Com tamanha visitação, problemas como o grande amontoado de lixo e o esgoto que vai parar na praia saltam aos olhos. Agora, um estudo que terá duração de um ano analisará a capacidade que a área tem para receber viajantes sem que ocorra degradação ambiental.
A pesquisa será implementada pelos institutos EcoBrasil e BioAtlântica, com apoio da Fundação SOS Mata Atlântica. O estudo abrangerá as atrações turísticas da Vila de Trindade, da Vila Oratório, da Praia do Sono e da Ponta Negra. "Faremos uma recomendação para a entrada de um número determinado de carros por dia, por exemplo. Também veremos qual é a capacidade das trilhas", explica Roberto Mourão, do EcoBrasil.
Ecoturismo. Na opinião de Daniel Cywinski, diretor executivo da Associação Cairuçu, o ideal é ter um turismo de mais qualidade e menos quantidade em Trindade. "Hoje, cada pessoa gasta em média R$ 30 por dia na Praia do Sono. Elevar para R$ 150 não seria exagero pelo valor do lugar, pela paisagem extraordinária", diz.
As Praias do Meio e do Caixadaço ficam dentro do Parque Nacional da Bocaina. Segundo o chefe do parque, Francisco Livino, em 2008 começaram algumas ações de ordenamento, com a retirada de bares. Mas muitos ainda estão por lá.
Apesar de a unidade de conservação ter sido criada em 1971, a infraestrutura é precária e, por isso, não se cobra entrada. "Precisamos mudar o perfil. Hoje os jovens vão para a Praia do Meio para fazer balada, tomar cerveja e ouvir música. Mas precisamos que a área tenha ecoturismo."
A psicóloga Cristiane De Vecchio Rose começou a frequentar Trindade há cerca de 15 anos, com amigos da universidade. Mas afirma que hoje não tem mais vontade de voltar. "Antes era um lugar rústico, calmo. Agora acho que perdeu o encanto, há muito comércio, pessoas te oferecem para ficar nos quiosques, com cadeiras na praia", conta.
O aumento de construções também preocupa o biólogo Fausto Rosa de Campos, de 28 anos, que nasceu em Trindade e é dono do camping Menina Flor. "Uma coisa bacana é que em Trindade o caiçara mora de frente para a praia, o que não se vê no restante do litoral. E as praias continuam lindas. Mas o crescimento desordenado vai deixando tudo mais feio. Não tem mais para onde crescer - ou congela ou vai virar favela", diz.
A reportagem tentou ouvir as Secretarias de Turismo e de Desenvolvimento e Meio Ambiente de Paraty, mas elas não se manifestaram.

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